A APERGO tem acompanhado com grande preocupação o processo de extinção da licenciatura em ergonomia. Dentro do respeito pela autonomia das Universidades e das suas escolas, lamentamos essencialmente que todo o processo que conduz a esta decisão, tenha sido levado a cabo sem que em algum momento, tenham sido ouvidos parceiros sociais relevantes para a adequada avaliação dos seus impactos, em particular a APERGO enquanto legitima representante da área profissional em Portugal. Com efeito, a forma como os órgãos directivos da Faculdade de Motricidade Humana conduziram o processo evidencia um total desrespeito pela fundamental responsabilidade social que está subjacente à autonomia que é concedida às escolas e Universidades. Sobretudo na qualidade de universidade pública, é exigível uma consideração mais séria pelos impactos sociais e profissionais de decisões deste nível.
Desde de Outubro de 2017 que, através de vários associados, foi-nos possível determinar que pouca ou nenhuma informação foi facultada às diversas partes implicadas no processo, inclusivamente aos próprios docentes da Secção Autónoma de Ergonomia da faculdade. Desenvolver um processo desta natureza à margem daqueles que serão porventura, os que mais directamente são visados pelas decisões que dele decorrem, evidencia uma deliberada intenção de ocultação de informação por parte dos órgãos decisores e suscita dúvidas relativamente às motivações e argumentos que sustentam a decisão de encerramento.
A informação recentemente tornada pública relativamente a este processo, aponta argumentos de natureza financeira e de sustentabilidade económica como únicos factores que justificam a decisão de encerrar a licenciatura em ergonomia. São inclusivamente, imputados custos ao funcionamento da licenciatura que na verdade, dizem respeito ao conjunto da Secção Autónoma de Ergonomia e todas as actividades de investigação e formação que por esta são desenvolvidas no âmbito da distribuição de serviço definida. A fragilidade e inconsistência desta argumentação vem reforçar as dúvidas que suscitam todo o processo e a forma como foi conduzido.
Contrariamente ao que é defendido com alguma frequência, a crescente presença de tecnologia em todos os sectores de indústria e serviços não reduz a preponderância do factor humano. A decisão humana atinge actualmente níveis de complexidade cada vez mais elevados, e em operações à escala mundial. A solicitação de contributos e soluções no âmbito da ergonomia e factores humanos são cada vez maiores e oriundas de um crescente número de sectores de actividade. Esta tendência evolutiva está bem patente em aspectos tão diversos como o crescente número de pedidos de informação e apoio que chegam à APERGO, ou o sucesso recentemente alcançado pela organização do encontro internacional “Healthcare Ergonomics and Patient Safety (HEPS 2019) em Lisboa.
Neste contexto, a formação proporcionada ao longo da licenciatura em Ergonomia da Faculdade de Motricidade Humana assume uma crescente importância no panorama nacional e internacional. Um claro indicador dessa importância está patente na crescente oferta de formação universitária de “Nível 1” nesta área de conhecimento, e em países tão diversos como França, Reino Unido, Finlândia, Estados Unidos da América e Austrália, entre outros. A decisão de encerramento da licenciatura na Faculdade de Motricidade Humana ignora toda esta conjuntura de forma grosseira e irresponsável.
Os factores económicos são naturalmente cruciais e devem naturalmente ser ponderados nas decisões de qualquer instituição. No entanto, a forma como foi conduzido o processo de encerramento da licenciatura em ergonomia levanta inúmeras questões, nomeadamente algumas de maior gravidade que carecem de esclarecimento por parte dos órgãos directivos da Faculdade de Motricidade Humana:
· Quais os custos reais da Licenciatura em Ergonomia?
· Por que razão todo o processo foi conduzido de forma manifestamente desinformada e alheia aos parceiros desta área profissional?
· Porquê a insistência no encerramento e na inviabilização de um processo de reformulação?
Perante estes factos, a APERGO convida os órgãos dirigentes da Faculdade de Motricidade Humana a reverem a sua posição. Este processo e a decisão a que conduziu em nada honram o histórico de uma instituição de ensino superior público que recentemente, comemorava de forma tão orgulhosa 70 anos de existência.